terça-feira, 8 de maio de 2012

Cortejo dos tristes

Ter uma catrafada de jovens adultos, na sua fase pós-adolescente, completamente histéricos e aos berros, alcoolizados o quanto baste, a deambular pelas ruas da cidade durante um dia inteiro, é um cenário digno de um qualquer filme de terror psicológico. Pelo menos para mim, que sou um gajo sensível a estas coisas, e com um baixo nível de tolerância para toda esta euforia desmedida.

Sim, vive-se mais uma vez o dia do cortejo de finalistas universitários, em que toda esta malta sai à rua para nos mostrar quem são as pessoas que irão construir o futuro do nosso Portugal. Eu diria que toda esta cerimónia é no mínimo dos mínimos passível de ser considerada extremamente irónica.Senão vejamos:

A grande maioria passeia-se durante este dia com as vestes e cores da sua faculdade, em carros alegóricos, tipo versão pobre do Carnaval brasileiro, entoando cânticos das suas respectivas faculdades, como se estivessem a caminho de alguma arena, em que se irão defrontar ferozmente a fim de apurar qual deles é o melhor. Os restantes passeiam o seu traje universitário e a capa com as fitas de forma a que todos saibam quem são os "senhores doutores". Bebem e berram o dia inteiro por todo o sítio em que passam, estando a maioria deles ainda a curar a ressaca da noite anterior e já na rampa de lançamento para nova borracheira de caixão à cova, enquanto que os familiares impávidos e serenos assistem a todo este belo espectáculo, como se se tratasse da coisa mais natural deste mundo.

Para quem achar que com isto eu estou a ser um bocado "careta", convém talvez relembrar-vos o contexto desta comemoração, pois ela é feita ainda em época de aulas, com o intuito de celebrar o culminar do estudo académico de uma série de estudantes, que ainda nem sequer fez os seus exames finais e como tal ainda não terminou coisa nenhuma. Convenhamos, há aqui um ligeiro contra-senso, não? E já agora, quantos deles já não terão feito 2 e 3 desfiles?

Após finalizarem isto, compreenderia perfeitamente que organizassem uma festa de arromba, em que fosse só "putas e vinho verde", como diz o bom calão nacional. Aí que bebessem, fornicassem e celebrassem até à exaustão a sua chegada ao mundo do desemprego, porque após isso, as oportunidades de o fazer convenientemente irão começar a escassear, mas até lá, bem que dispensava que andassem por aí a pavonearem-se de uma coisa que ainda não são, muito menos durante o dia, perturbando a minha calma e de mais uns quantos milhares de pessoas, e que bem que dispensam esta espécie de cenário dantesco softcore, que o cortejo acarreta consigo.

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