quarta-feira, 30 de junho de 2010

Nacionalisses

Pois é, chegou ao fim o sonho da selecção nacional e de muitos portugueses neste mundial de futebol. A tristeza é generalizada em mais este falhanço, e como é normal, nestas situações há sempre que encontrar um bode expiatório. E nisto há actualmente 2 grande candidatos a esse papel: o seleccionador Carlos Queirós e o mediático Cristiano Ronaldo.

Devo dizer que uma parte de mim se sente aliviado com este afastamento do Mundial. Para começar irão silenciar-se finalmente essas horrendas cornetas importadas da África do Sul, as vuvuzelas! Espero apenas que tenha sido uma moda passageira, porque só de imaginar, que sempre que agora houver um encontro importante de futebol, seremos obrigados a suportar esse barulho infernal, até me deixa indisposto! A sério meus amigos, a grande maioria de vocês não acham que já ultrapassaram a idade de andar por aí fascinados com tudo o que aparece à frente e faz barulho? É que isso é típico do comportamento de crianças dos 2 aos 6 anos e não é preciso ser-se nenhum entendido em psicologia para estar a par deste facto...

Outra das coisas que tem bom este afastamento do campeonato do mundo é o fim de toda esta disparatada onda de nacionalismo que agora nos invade a cada 2 anos na altura dos mundiais e europeus de futebol. Nestas alturas nunca faltam bandeiras nacionais, camisolas e cachecóis. Nem as caras pintadas com as cores de Portugal faltam. Até as mulheres que passam 300 e muitos dias do ano a falar mal de futebol e lixar a cabeça aos maridos e namorados por causa da "bola", chegam a esta altura e se for preciso ainda berram mais intensamente que os homens! Anda tudo o ano inteiro a queixar-se do seu próprio país, das pessoas que o habitam e da sua mentalidade, mas basta haver uma competição futebolística de nível internacional para que toda a gente passe a ser "um português cheio de orgulho" na sua nação! Mas se depois as coisas correm mal, já somos todos novamente uma tristeza de povo e remetemo-nos rapidamente à nossa própria e típica insignificância.
Será que, tirando a selecção nacional de futebol não conseguimos encontrar de facto um outro motivo de orgulho para aclamarmos a nossa nacionalidade? Somos mesmo um povo assim tão triste que não consegue identificar com mais nada de positivo além de Figos, Ronaldos e Mourinhos?

E no meio de tudo tenho isto tenho mesmo que perguntar... Serei eu o único que se está perfeitamente a marimbar para o facto de o Cristiano Ronaldo não cantar o hino nacional antes do inicio dos jogos de Portugal? É que tipo... Não há nada melhor para discutir? Será que por obra e graça de Nossa Senhora da Aparição ele jogaria melhor se antes cantasse o hino? E será que isso teria como consequência um melhoramento nas nossas vidas pessoais?

Faço estas perguntas porque depois da derrota de ontem tudo servia para deitar mais achas para a fogueira e justificar o falhanço da selecção. Era só abrir o facebook e constatar isto no meio de todos os comentários revoltados. Confesso que a mim me revolta mais o aumento do IVA, a introdução de novas portagens que irão afastar muito do turismo galego da norte do país e a habitual falta de soluções para resolver os problemas económicos e sociais que nos assolam neste momento. Perante isto, parece-me de facto ridículo andar-me a preocupar com o facto de um puto de 25 anos não cantar o hino nacional antes de começar a dar uns chutos na bola...
Aliás, eu até acho o nosso hino um bocado para o piroso, com menção a armas e a marchar contra canhões...
Será que isso faz de mim uma pessoa com menos amor ao seu país? Talvez faça, até porque antes de me considerar português, considero-me cidadão do planeta terra. Mas isso são já outras conversas...

Voltando ao nosso tema dominante, não quero que pensem que sou algum tipo de fundamentalista anti-futebol, pois se o fizerem estão um pouco distantes da minha realidade. Sou uma pessoa que gosta acima de tudo de bons espectáculos, e no caso do desporto acho que o futebol e o basquetebol são dois desportos de excelência a nível do espectáculo que podem proporcionar. Desde os 14 anos que fui perdendo a paixão ferrenha que tinha pelo tão aclamado desporto rei, mas continuo a ser capaz de apreciar ocasionalmente um bom jogo. Acho inclusivamente que é saudável que se vibre e se sinta um pouco dessa paixão pelo jogo, que se discuta um pouco e se formulem opiniões. No entanto o razoável tem um limite e esse começa quando se começa por tornar em ícone nacional e mundial um tipo, que a nível pessoal e intelectual deixa muito a desejar. Esse limite ultrapassa ainda mais a barreira do racional quando se lhe tenta imputar a responsabilidade de uma boa campanha desportiva da selecção portuguesa e se começam a procurar todo o tipo de falhas para se lhe apontar após o fracasso. É o velho hábito de se arranjar os tão badalados bodes expiatórios, do qual o povo português se mostra, a cada ano que passa, um verdadeiro "expert"!

Resta no meio disto tudo, um pouco da consolação de pelo menos desta vez não termos sido os que fizemos a figurinha mais triste. Podemos olhar para o caso dos franceses, que até o seleccionador nacional , presidente da federação francesa de futebol e alguns dos seus jogadores foram chamados ao parlamento para prestar esclarecimentos sobre o sucedido neste mundial. Chega mesmo a ser caso para um tipo pensar: "Fodasse, mas isto anda tudo chóné, ou sou só eu que devo ter sido importado directamente de Marte?" É que se isto não roça o ridículo para mais ninguém, então alguém que me dê o contacto da nave mãe para eu requisitar a recolha e ser devolvido directamente à procedência...

Ah, e para terminar, antes que os mais conservadores se comecem a perguntar, informo desde já que sim, o autor deste texto está consciente de que termo "nacionalisses" não consta do dicionário de língua portuguesa. Mas serve bem o seu propósito.