Terminadas as eleições europeias, devo dizer que há algumas questões que convém reflectir um pouco, para que nos preparemos para aquilo que nos espera. O cenário é de facto algo de caricato.
Comecemos pelo caso de Portugal, onde merecidamente o PS levou um correctivo, devido à sistemática falta de politicas sociais para satisfazer as necessidades do cidadão comum nos dias de hoje. Esperava-se algo menos significativo, mas a derrota não terá surpreendido muitos.
Há que referir a ascensão do Bloco de Esquerda para o plano de 3ª força política nacional, o que não pode ser dissociado da continua queda do PCP, embora menos acentuado do que aquilo que inicialmente se previa. No entanto, se considerarmos o elevado numero da abstenção registado neste acto eleitoral, as perspectivas para as legislativas são de um provável reforço desta posição por parte do BE, visto que o PCP ainda mantém uma quase que ferrenha massa de militantes, que costuma movimentar-se em peso em época de eleições, mas no entanto é um partido cuja a capacidade de atrair novos apoiantes, é nos dias que correm quase nula. Isto significa que a sua margem de progressão para as legislativas é quase inexistente, ao contrário do BE que com o passar do tempo tem ganho cada vez mais simpatizantes, devido à constante adequação das suas políticas face às questões da actualidade. O resultado acabou por ser bom para ambos, pois o BE quase que triplicou o numero de votos em relação ao acto anterior, enquanto que o PCP ao contrário do que previam as sondagens conseguiu manter a sua votação.
O CDS-PP, um pouco à imagem do PCP, acabou por se congratular com os resultados obtidos, visto que muitas sondagens também davam uma intenção de voto extremamente baixa ao partido e este acabou por subir ligeiramente a níveis percentuais. Ou seja, tal como os comunistas, este escapou de forma um pouco surpreendente à sua anunciada "morte política", o que não significa que nas legislativas tal não se venha a verificar. É esperar para ver.
O PSD, por seu turno, acabou por ter uma vitória mais folgada do que aquilo que inicialmente era esperado, no entanto longe de ser convincente. A sua vitória deve-se mais à falta de mérito do adversário do que outra coisa qualquer e o que acredito que as próximas legislativas irão mostrar isso mesmo. O PSD irá perder novamente terreno para o PS por ser uma alternativa medíocre. É que passar de um Sócrates para Manuela Ferreira Leite é quase como passar de burro para jumento. O primeiro é mau, mas a alternativa é francamente pior!
No final, o que se pôde verificar, foi que apesar da esquerda em conjunto ter tido mais votos, foi um partido de direita que venceu as eleições, mas fê-lo mais como forma de protesto do povo português contra o actual rumo das políticas do PS, do que por agrado em relação às alternativas apresentadas por si. E como no fundo o português comum está-se a lixar um bocado para aquilo que acontece no Parlamento Europeu, nada melhor do que demonstrar a sua insatisfação neste acto eleitoral. Mas parece-me que quando chegar à altura das eleições internas teremos que nos resignar a "mais do mesmo" por não haver uma opção viável e satisfatória.
Relativamente ao panorama dos outros países constituintes da União Europeia há uma coisa que importa reter acima de tudo o resto, que é o facto da direita ter voltado a ganhar força. E isto, embora não pareça é um caso estranho. Passo então a explicar:
Atravessamos neste momento uma crise económica a nível mundial que todos já conhecemos e isto deve-se em muito às políticas de liberalização de mercado defendidas maioritariamente pelos partidos de centro-direita e direita. Esta liberalização peca essencialmente pela falta de regulamentação e acaba por privilegiar as grandes empresas que com facilidade atraem clientes com preços extremamente baixos, aniquilando a concorrência e estando depois à vontade para praticar os preços que bem lhes apetece. Ou seja, estes acabam por moldar o mercado à sua imagem e depois controlam-no como bem entendem, pois o "peixe-miúdo" nada pode fazer face ao poderio económico de uma multinacional de sucesso. A isto temos que juntar o escândalo do caso Madoff, a gestão duvidosa de capitais por parte de certas entidades bancárias, como em Portugal foi o caso do BPN, e a falta de regulamentação e fiscalização verificados na banca Norte-Americana relativamente aos empréstimos no crédito habitação ao cidadão comum. E como actualmente a economia acaba por estar toda ligada, principalmente no que diz respeito aos Estados Unidos, estes quando abanam fazem tremer os outros.
O curioso acaba por ser o facto de que neste momento assistimos a um ligeiro virar à esquerda na política dos EUA com a eleição de Barack Obama, na esperança de que a política deste de melhorar as relações externas com a Europa e o resto do mundo, de dedicar mais tempo do mandato à resolução dos diversos problemas sociais e de regulamentar melhor o mercado e as diversas leis da concorrencia, apresentem resultados positivos, a realidade é que na Europa quem ganhou força foi o centro-direita. Isto tem algum significado, pois apesar dos EUA continuarem a ser o grande palco de tendencias da actualidade, esta linha acabou por não se repercutir na política. Mais, em França e na Alemanha, os partidos de Sarkozy e Merkel respectivamente, reforçaram as suas posições de lideres nestas eleições, partidos esses que em Portugal se assemelham um pouco ao nosso CDS-PP. No fundo quase que se pode dizer que quem defendia este tipo de políticas, independentemente se na altura dos primeiros sinais da crise estava no poder ou não, acaba por sair premiado nestas eleições europeias.
Agora veremos quais são os frutos que estas sementes que semeamos nos irão dar a colher nos próximos anos.
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