Curiosamente, na semana passada decidi introduzir neste blogue uma série de títulos de assuntos sobre os quais gostaria de escrever. O primeiro de todos era "Está alguém à escuta?". Passados 2 ou 3 dias uma amiga comentava comigo uma situação que tinha tido recentemente com um amigo seu, em que praticamente se tinham chateado porque ele sentia que a comunicação era praticamente unilateral, pois passava o tempo a ouvir as histórias dela e sentia que sempre que ia a dizer ou a contar alguma coisa que era rapidamente interrompido. Ela, a concluir a descrição da situação toda rematou com algo do género: "de facto às vezes estamos estão perdidos e centrados em nós mesmos que acabamos por nos esquecer do quão é importante também saber escutar os outros e dar-lhes a oportunidade de nos contarem também o que se passa com eles. Não é que faça isto por mal, mas às vezes estava tão eufórica e com vontade de partilhar as minhas histórias que acabava por nem o deixar contar as dele". Sorri e assenti em concordância enquanto me recordava do título para este texto. Pensei para mim mesmo que se há alturas em que o acaso nos aponta numa direcção, esta foi uma delas, e como tal decidi que este seria mesmo o próximo texto a ser escrito, embora tenha preferido alterar-lhe o título, pois cheguei à conclusão que "saber escutar" era mais apropriado para aquilo que pretendo transmitir.
O que me parece, é que cada vez mais é necessário explicar às pessoas a importância do saber escutar, porque de facto é algo que a maioria não sabe fazer. Este é um acto que necessita que cada um se saiba remeter a um "silêncio relativo" quando necessário, sendo de igual importância saber identificar em que circunstancias se o deve fazer. E a realidade é que a maior parte das pessoas não se apercebe destes factos.
Toda a gente gosta de contrapor os outros com as suas ideias e ideais, com a sua forma de estar e de encarar a realidade e de partilhar as suas vivências, mas na hora de retribuir, passando para o papel de ouvinte muitos falham. E fazem-no porque não compreendem este pressuposto de "silêncio relativo".
Quando um individuo tem um desabafo para com alguém, ou conta uma determinada situação que viveu, é importante que o receptor se inteire do seu papel, que é ser ouvinte e que para o ser, tem que deixar um pouco de lado as suas experiências e opiniões. É importante que ouça em silêncio e só vá intervindo pontualmente nos momentos que achar inteiramente necessários, caso contrário corre o risco de que o emissor perca o fio à meada ou que simplesmente se aborreça e farte, acabando por não transmitir o que gostaria. É absolutamente frustrante querer contar alguma coisa a alguém ou ter um desabafo e estar continuamente a ser interrompido por alguém que nos quer estar a dar a sua opinião sobre o que acha que temos que fazer, a tentar comparar as suas experiências com as nossas,etc. Não que ache que tal não deva acontecer, porque é importante contrapor as vivências dos outros com as nossas, mas tal só deve ser feito após a mensagem ter sido completada. É um tremendo engano julgarmos que podemos ajudar os outros ou compreender aquilo por que passaram ou viveram se não ouvirmos com atenção tudo aquilo que nos querem transmitir, pois muitas vezes o que inicialmente parece ser uma situação semelhante com algo pelo qual passamos acaba por se revelar algo completamente diferente daquilo que julgávamos ser. É errado presumir-se que sem se conhecer os antecedentes de cada um, sem perceber o que levou a determinado comportamento ou reacção, possamos dar o nosso parecer mais acertado.
Cada ser humano é como um grande livro: tem uma história, história essa que por sua vez tem capítulos e estes por sua vez têm episódios, estando todos eles interligados por um fio condutor que é o individuo. Para se compreender o que fascina e motiva, o que deprime e entristece cada um é necessário ter um pouco de conhecimento sobre a história desse. Querer tirar conclusões precipitadas quando não se conhecem os factos essenciais dos diversos episódios ou capítulos que influenciam a forma de estar e de agir de um individuo é algo que só dificulta mais o acto de compreender na sua totalidade. É como tentar compreender um enredo, conhecendo-se apenas as personagens e os desfechos das suas histórias. Saber apenas que sujeito A fez isto e aquilo a sujeito B e consequentemente sujeito C foi influenciado por isso na sua relação com sujeito D, não é o mesmo que entender quais foram as situações experiências e consequentes motivações que levaram a esses actos, tal e qual como saber que o João foi mordido por um cão, não é o mesmo que saber que este o mordeu porque antes este lhe deu um chuto. É importante que se saiba ver a grande diferença que existe aqui, pois não é com base em "resumos" e presunções que se chega a conclusões efectivas. Ter a capacidade de discernir estes factos e interiorizar que é necessário ter paciência para se perceber o porquê das coisas é a grande arma de um bom ouvinte.
Saber escutar é acima de tudo uma arte que nos permite conectar com a realidade dos outros, enriquecendo-nos a nós e libertando-os a eles. É um dom que deve ser estimado, um privilégio que tem que ser aproveitado. Doutra forma mais vale às vezes falar sozinho...
terça-feira, 4 de agosto de 2009
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